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Trilogia da morte de Nacho Cerdá

  • Eliane Silva
  • 15 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

A "Trilogia da morte" é uma obra (prima, a meu ver) do diretor Nacho Cerdá, é o tipo de composição que se vista separada pode provocar tanto repulsa quanto interesse, e que vista na íntegra é digna de se "tirar o chapéu". As peças se conectam perfeitamente, além de passar de forma clara e objetiva a mensagem, o diretor conseguiu montar três peças sem diálogos (tem uma fala no primeiro curta que -creio eu- representa um pensamento do personagem principal, mas é o único caso) em que a fotografia e a trilha sonora atuam como componentes essenciais tanto para a compreensão da mensagem quanto para a composição da mesma.

Como já diz o nome, são três curtas "The Awakening" (1990), "Aftermath" (1994) e "Genesis" (1998); o pessoal que curte filmes gore provavelmente já deve ter escutado falar de "Aftermath", um dos mais famosos da trilogia devido a seu conteúdo considerado por muitos perturbador.

The Awakening, ou "Despertar" em português, é o mais curto da trilogia tendo apenas 8 minutos, todo em preto e branco é uma das obras mais simples porém com uma simbologia incrível e um final mais do que claro. Retrata um aluno que adormece durante a aula e quando acorda tudo e todos a seu redor estão parados, o resto é obvio que não vou contar (fala sério, tem só 8 minutos cara, dá pra assistir de boa).

Mais polêmico que mamilos, "Aftermath" ou "O que há após/depois de" que seria a representação da morte, é um curta de 30 minutos muitíssimo mais elaborado que o primeiro. Retrata um necrotério para onde são levadas as vítimas de acidentes, os órgãos dessas vítimas são aparentemente retirados para uso em transplantes; o foco da estória é um legista "tan tan" que sente prazer ao ver os corpos mortos abertos, sendo cortados e tal. O mais incrível nele é como os olhos do legista são expressivos, superando qualquer falta de diálogo. Pessoalmente não achei o filme tão perturbador, mas acredito que o que leva muitos a sentir asco ao vê-lo é por conter cenas de necrofilia, mutilação, além de mostrar os corpos abertos nas mesas dos legistas (isso, no plural, mais de um corpo). Aftermath a meu ver mostra como nós somos só mais um monte de carne qualquer, isso sim é desconcertante, a inutilidade do ser e a perversidade da mente humana. Aos de estômago fraco e extremamente sensíveis sugiro que não assistam.

E Genesis, que para mim é o mais belo dos três além de ser o mais poético, também com 30 minutos, retrata um artista que após a morte da mulher em um grave acidente passa a dedicar seus dias a fazer uma escultura perfeita de sua esposa, mas conforme vai chegando à perfeição começam a aparecer buracos na escultura por onde sai sangue ao mesmo tempo que o criador da obra passa a "endurecer", a se transformar em barro. A simbologia e poesia da obra é mesclada ao ar de terror e suspense, o "renascimento" que esta representa é mostrada de diversas maneiras nesta película que é simplesmente linda. Não é por menos que tanto Genesis quanto Aftermath foram premiadas como melhor curta-metragem em diversos festivais de cinema espanhol. Cerdá utiliza a violência em seu estado "puro", a banalização do ser humano é mostrada junto ao simbolismo e de certa poesia que tornam essa obra tão fantástica e reflexiva, há quem diga que seja mais um gore, outros que seria algo como um "terror poético" mas a beleza de significado dessa trilogia a põe em um patamar simplesmente indefinível.

 
 
 

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